Recorrentemente, vemos o liberalismo apresentado como uma ideologia. Tenho dificuldade em subscrever tal visão. Enquanto escatologia politica aberta, verei mais o liberalismo como uma corrente de pensamento que acomoda várias tendências e abordagens, com uma tradição plurisecular e multicultural, projecção das reflexões de vários pensadores, expresso numa conceptualização ampla e até difusa. Liberalismo será assim antes uma tradição de pensamento, sem que se possa atribuir-lhe uma paternidade isolada. Também simpatizo com a forma como o Rui de Albuquerque por vezes o apresenta, o liberalismo enquanto atitude. O que não me faz sentido é empurrar, como o faz o João Cardoso Rosas, o liberalismo para algo que será património histórico da esquerda, expressão das ideias de um conjunto fechado de pensadores.
Uma tradição seria algo que passa de pais para filhos. Na minha maneira de ver é uma ideologia, daquelas bem escondidas no fundo do armário a ver se ninguém a encontra.
Claro que isto não tem nada a ver com “esquerda” e “direita”. Esse tipo de definições só pode ter sido inventado por quem queria fazer de conta que era diferente dos outros. Deve ter nascido numa qualquer silly season e a coisa pegou.