No sítio do grupo parlamentar do PS:
Talvez finalmente se entenda que a reforma da mentalidade, essa inglória batalha de António Sérgio, tenha de começar por aqui, por uma outra concepção de responsabilidade do Estado perante os cidadãos. E talvez os termos em que Jorge Coelho apresentou a demissão tenham iniciado uma nova etapa na vida política portuguesa. Havia os exemplos de Walter Rosa e de Francisco Sousa Tavares. Com a sua atitude, Jorge Coelho contribuiu para ressuscitar o conceito de responsabilidade política no exercício do poder. A partir de agora, é muito difícil que outros ministros possam «brincar» com a colocação de lugares à disposição. E é sobretudo mais difícil que a culpa possa continuar a ficar solteira.
Na Dinamarca houve um ministro que se demitiu por uma pequena omissão numa audição parlamentar. Ninguém o acusou. Nem foi preciso. A cultura de responsabilidade no exercício de cargos públicos levou-o a concluir que mesmo esse pequeno deslize era incompatível com a sua condição de ministro. Em Portugal vigora outra tradição: lavar as mãos, encontrar bodes expiatórios, nomear comissões de inquérito, dar tempo ao tempo para o tempo fazer esquecer. Por isso a demissão de Jorge Coelho, até pelo seu peso no Governo e no partido, constitui uma ruptura com essa tradição de desleixo e passa-culpas.