À porta do Parlamento Europeu, em Bruxelas, enquanto alguns portugueses esperavam por entrar, um pouco confusos e espalhados por aqui e por ali, um grupo de indianos aguardava também a sua vez. Faziam-no em fila indiana, alguns ajeitavam os cabelos, outros as gravatas. Todos, e aqui eram mesmo todos, deixavam transparecer um nervoso miudinho de quem visita algo (ou alguém) importante. Um grande instituição. O que julgam ser uma casa da democracia, tão necessário para um país com várias línguas, credos e diferenças. Lembraram-me o Mr. Biswas de V. S. Naipaul. Um certo temor de quem conheceu a miséria (social e política), naquilo que esta tem de pior e vislumbra na casa dos outros, nos seus bons alicerces, na sua excelente base, o que queria ter para si. Era temor, admiração e inconformismo. E um certo orgulho, também. O inconformismo e o orgulho que guiaram a vida de Mr. Biswas, até morrer na sua casa onde o sol da tarde batia nas janelas. Há anos que procuro um Mr. Biswas dentro de mim. A busca de uma casa para a minha vida. A insatisfação própria dos inocentes. O respeito inconformado, como sendo dos melhores sentimentos que um homem pode experimentar. Essa minha busca não terminou, mas eu vi Mr. Biswas (e eram muitos) a passar perto de mim à porta do Parlamento Europeu. Havia nobreza e dignidade. Eu reduzi-me à inveja. Foi esta semana em Bruxelas.
Não percebo este post, porque precisamente os indianos também têm na Índia “uma casa da democracia” nesse “país com várias línguas, credos e diferenças” que é a Índia. Eu diria que, precisamente, neste campo os indianos nada têm a aprender com a Europa – o contrário é que é verdade.
Repare-se que a Índia está mais avançada do que a Europa, na medida em que na Índia, ao contrário do que acontece na Europa, há partidos federais – o Partido do Congresso, o Partido Bharatiya Janata, etc – ao contrário daquilo que acontece na Europa, onde continua a só haver partidos estatais (os quais também existem, em enorme número, na Índia). Ou seja, como eu digo, é a Europa que tem que ver a ìndia como modelo de progresso e entendimento federal, e não o oposto.
“Não percebo este post”
Pois é. Realmente não percebeu.
Quando encontrar essa “casa”, pode indicar-me a direcção, um caminho?
Na banalidade do que “se tem” deixámos que se diluisse o que “se é”, ou antes, o que “se deveria ser”.
Obrigada por esta lição de humildade.
Muito bem, André.
Abraço amigo,
Rui
Grande post, André.
Luís Lavoura, sempre que se pronuncia sobre a fabulosa democracia indiana produz coisas hilariantes. Continue, peço-lhe. Talvez convença proto-hippies que sonham viajar para a India em procura de luz espiriual (de preferência com a ajuda de umas ganzas em Goa).
Tenho uma fanstástica fotografia das dezenas de homens de fato escuro e camisa branca, todos com corte de cabelo semelhante, perfeitamente alinhados à entrada e na fotografia oficial de “família” a que nós, os portugueses, se esquivavam como maomé do toucinho.
🙂
Um excelente post
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grande post. adorei a referência ao mr. biswas: era mesmo isso.
beijinho
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