“Sal da Terra” de Fernando Gabriel (Diário Económico)
Em 2007 Gordon Brown garantia que a superior governação do Labour tinha posto fim ao ciclo económico. Na semana passada, o FMI anunciou uma contracção previsível do PIB britânico de quase 3% em 2009, a maior entre as economias do grupo G7.
De acordo com a revista The Economist, o ‘deficit’ público ultrapassará os 8% em 2009 e o custo do salvamento dos bancos ingleses pode atingir os 14% do PIB, um valor semelhante ao suportado pelo Japão, na longa estagnação da década de 90. No cenário mais pessimista, a dívida pública britânica poderá aproximar-se dos 100% do PIB, um valor sem precedentes em tempo de paz. Afinal, Brown não acabou com o ciclo económico: foi o ciclo que acabou com a sua reputação de governante.
Não é apenas a economia que está a ser seriamente afectada pelos erros de onze anos de governo trabalhista: é toda a sociedade britânica. Na semana em que passaram 20 anos sobre a sentença de morte decretada por Khomeini contra Salman Rushdie, pela publicação dos Versículos Satânicos, o deputado holandês Geert Wilders foi impedido de entrar no Reino Unido. Jacqui Smith, encarregue do Home Office, justificou a decisão garantindo que Wilders representa “uma ameaça aos interesses fundamentais da sociedade e à harmonia da comunidade”.
A justificação é absurda. O deputado Wilders argumenta que é fácil, demasiadamente fácil, extrair do Corão um conjunto de passagens que parecem predispor alguns leitores a decapitar o próximo, a atirar aviões contra edifícios e a fazer-se explodir inesperadamente em locais pouco recomendáveis. Admito que não seja do livro em causa e que determinados excertos das obras de José Rodrigues dos Santos possam induzir a mesma disposição homicida. Ainda assim, tudo quanto o sr. Wilders cometeu foi um filme fraco com uma tese discutível; o que pretendia era precisamente discuti-la e foi para isso que foi convidado por membros da Câmara dos Lordes. Ao banir Wilders, o governo britânico desprezou o princípio de protecção da liberdade de expressão e a tradição liberal, resumida por John Mill em On Liberty, que deveriam constituir o “interesse fundamental” da sociedade, e ofendeu os inúmeros refugiados que ao longo dos tempos encontraram em Inglaterra um porto de abrigo.
“Ao banir Wilders, o governo britânico desprezou o princípio de protecção da liberdade de expressão”
Sem pretender de forma nenhuma defender a atitude do governo britânico, faço notar que Estados liberais não ofendem a liberdade de expressão, o que não quer dizer que tenham que a defender ativamente. Ou seja, se uma certa pessoa fôr incomodada por milhares de outras pessoas devido àquilo que exprime, o Estado liberal pode ser incapaz de intervir. Uma coisa é o Estado não ofender (não reprimir) a liberdade de expressão, outra coisa muito diferente é ser obrigado a gastar imensos recursos policiais para proteger um indivíduo que, devido à sua expressão agressiva, se tornou alvo da ira de outros.
Não foi isso que alegou o governo britâncio para impedir a entrada de Wilders. Quanto aos recursos sendo certo que estes são finitos parece que o Estado Social prefere gastar fortunas em actividades bem mais “nobres” que a segurança pública .Wilders poder ter uma expressão agressiva (algo que não discuto) mas não faz incitamentos à violência. Os seus contestatários costumam cometer actos agressivos (literalmente). Parece que o governo britâncio prefere reprimir a expressão em vez dos actos.
Continuo sem saber porque se arroga a assinar ‘investigador universitário’ mas este é um artigo com questões pertinentes.
É benvinda a nova de saber que FG defende a liberdade de expressão. Pena que ache que a tortura, a detenção por tempo indeterminado e a presunção de inocência sejam valores negociáveis.
A Inglaterra vive num estado de psicose colectiva já desde antes dos atentados de Londres. Um estado de psicose grave. Pior é q desconfio que vender armas vai ser a senha de saida da crise.
“Ou seja, se uma certa pessoa fôr incomodada por milhares de outras pessoas devido àquilo que exprime, o Estado liberal pode ser incapaz de intervir.”
Mais uma imoralidade defendida por Lavoura. Chega a ser aberrante este personagem.
“Continuo sem saber porque se arroga a assinar ‘investigador universitário”
Caro Francisco, a paciência tem limites. O próximo comentário com referências do género será apagado.
No caso do sr. Wilders estou com o Miguel. Penso que não lhe devia ter sido vedada a entrada, e muito menos alvo de um processo por delito de opinião, como sucedeu na Holanda.
Na liberdade de expressão cabe o direito ao erro e ao disparate. E mesmo a expressão de pontos de vista, ou preconceitos, que atentam contra os valores que temos (ou que uma sociedade tem por bons ou exemplo de virtude.
Caso contrário, acabamos a encerrar a liberdade de expressão nos estreitos limites do respeitinho.
Parece-me que o sr. Lavoura devia (re)ler Mill (se não leu, parece-em grave, atendendo a que se diz liberal…). Bem,isto soa a estranheza, visto eu não ser um liberal. Encontro-me bem longe desta filosofia, mas não nas questões da liberdade de expressão, nem nos riscos de a democracia poder desembocar em tirania ou na ditadura da maioria.
“Caro Francisco, a paciência tem limites. O próximo comentário com referências do género será apagado.”
? Não estou a entender…
É uma história antiga… Ele entende
“Encontro-me bem longe desta filosofia, mas não nas questões da liberdade de expressão, nem nos riscos de a democracia poder desembocar em tirania ou na ditadura da maioria.”
Pois, a democracia tem dessas coisas. Como na Venezuela, não é?
Quanto à recomendação de Mill e à tua posição sobre a liberdade de expressão (e de opinião, atrevo-me a acrescentar; ambas reconheço que as professas) só surpreende que ainda assim estejas “bem perto” politicamente de quem apoia políticas e tradições totalitárias.
“Bem,isto soa a estranheza, visto eu não ser um liberal. Encontro-me bem longe desta filosofia”
Nunca é tarde para emendares erros passados! 🙂
“Parece-me que o sr. Lavoura (…) que se diz liberal…)”
A doutrina divide-se… 🙂
“Continuo sem saber porque se arroga a assinar ‘investigador universitário’ mas este é um artigo com questões pertinentes.”
Suspeito que seja por investigar e trabalhar numa Universidade, mas estou certo que o Francisco tem uma teoria melhor.
“Pois, a democracia tem dessas coisas. Como na Venezuela, não é?”
Vai lá ver o post do Office… que responde à tua questão.
“só surpreende que ainda assim estejas “bem perto” politicamente de quem apoia políticas e tradições totalitárias.”
Que eu saiba, o Morales nunca leu o Livro Vermelho do Grande Líder Mao Tse-Tung, nem tão-pouco se guia pela cartilha do Pai dos Povos 😉