O falhanço da força

Frederico II da Prússia foi um bom rei. Genial, com a irascibilidade e teimosia dos génios, mordaz e intransigente quanto baste. Além de ter defendido a Prússia contra franceses, austríacos e russos, que o atacavam de todos as lados e ao mesmo tempo, Frederico tinha a qualidade de se interessar pelos mais variados assuntos. Tocava flauta, escrevia poesia, foi filósofo, romancista (em francês) e historiador. Acreditava na liberdade religiosa, não tinha grande consideração pela nobreza (principalmente a prussiana em que Bismarck, cem anos mais tarde, se apoiou). Tinha ainda um interesse desmesurado pela agricultura que apoiou à exaustão.

Depois da Guerra dos Sete Anos, em 1763, Frederico quis reformar o Estado e modernizar a Prússia. Cuidou da agricultura, ora ajudando a colocar os produtos no mercado, ora pagando as dívidas derivadas dos maus anos agrícolas. Quis apoiar também a indústria. Foi nestes seus esforços pela modernização da Prússia, apesar de tantas vezes mal compreendido pelos prussianos, que se perdeu um pouco. Como não depositava muita fé nos prussianos, centralizou em si as decisões. Quis que se produzisse louça e assim se fez, apesar de todos os países europeus o fazerem também e ninguém se mostrar muito interessado pelo o que se fabricava perto de Berlim; Roubou ovelhas aos pastores para aumentar o preço da lã alemã e por aí fora. Tudo esforços falhados.

Frederico tinha uma personalidade complexa. Se acreditava na liberdade de imprensa, que as críticas, quaisquer que elas fossem, eram construtivas, já não tinha esperança nas pessoas, no povo que governava. Não acreditava nas suas capacidades. Desta forma, o esforço de modernização cabia-lhe a ele, o rei que de antemão sabia o que faltava e que o preciso eram investimentos públicos.

Com a desculpa do exagero, julgo que vivemos agora um tempo um pouco semelhante. Pouco, porque os nossos governantes, não sendo cultos e inteligentes como Frederico, pretendem, ainda assim, saber e decidir todos os assuntos por nós. Que aquela estrada é indispensável para o desenvolvimento de uma determinada região; que os computadores dados às crianças as vão fazer mais inteligentes e preparadas para o futuro; que o TGV nos vais tornar ricos e os que os ricos devem pagar a crise; que a falta de encomendas das empresas se resolve com injecções de capitais; que os serviços públicos são a solução que nos falta.

Frederico morreu doente e com a sensação do fracasso. Acontece a todos os que teimam em fazer vingar a sua vontade, apesar das inúmeras resistências. Apesar do forte poder que detêm, nada é possível contra a vontade e o interesse de milhões de indivíduos cujos desejos são impossíveis de adivinhar. Não há por onde fugir. E é por isso que, independentemente da enorme força de vontade deste governo, da fé na força do Estado, corremos o sério risco de, dentro de 10 anos, estarmos mais pobres do que éramos há uma década atrás.

5 pensamentos sobre “O falhanço da força

  1. Leste o DE? Ocorreu-me um post parecido mas ainda bem que me atrasei 😉 Se há algo a temer nestes dias é a hubris que anda por aí à solta.

  2. André: “… corremos o risco…”? “… daqui a 10 anos”? Que bondade a sua em relação ao governo… E que maldade a sua em relação à minha ténue esperança…
    Mas gostei imenso de ler sobre o Frederico. Adoro biografias (as que nos ensinam alguma coisa).

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