(…)O Programa que aprovámos mostra bem que o nosso caminho tem de consistir na
construção de uma democracia real. Não basta apenas rejeitar, ainda que claramente,
as vias oferecidas pelo neocapitalismo e pelo neoliberalismo, por incapazes
de resolverem as contradições da sociedade portuguesa e de evitarem a
inflação, o desemprego, a insegurança e a alienação nas sociedades que constróem.
Não bastam reformas de repartição ou redistribuição de riqueza, sobretudo
pela utilização da carga fiscal. Há que introduzir profundas reformas
estruturais, que alterem mecanismos do poder e substituam à procura do lucro
outras motivações que dinamizem a vida económica e social. Propomo-nos, assim,
construir não uma simples democracia formal, burguesa, mas sim, uma autêntica
democracia política, económica, social e cultural.
Sá Carneiro, no discurso de encerramento do I Congresso Nacional do PPD, retirado da página do Instituto Sá Carneiro
Diz o Ricardo Ferreira em comentário ao meu último post que Sá Carneiro era um homem à frente do seu tempo. E tem razão: Francisco Louçã só apareceu uns anos depois.
Nesses tempos o então PPD chegou a pedir adesão à internacional socialista e o próprio CDS admitia que Portugal deveria caminhar rumo ao socialismo democrático com matriz social-cristã…
Que semelhança tem este discurso perfeitamente datado, mas infelizmente muito actual, com o que diz o Louçã?
Sá Carneiro não só estava à frente do seu tempo como evoluiria certamente.
Louçã defende ideias de 1917, enfeitadas apenas com algumas mariquices na moda para produzir sound-bytes ou agradar a lobbyes.
Se o PSD enterrar Sá Carneiro, é só porque não o merece e depois desvanecerá porque nada mais justificará a sua existência.
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“Que semelhança tem este discurso perfeitamente datado, mas infelizmente muito actual, com o que diz o Louçã?”
O discurso é parecido mas enquanto Louça se tivesse o poder seria no mínimo um Chavez, Sá Carneiro seria um Guterres, Durão ou Sócrates.
“Sá Carneiro não só estava à frente do seu tempo como evoluiria certamente.”
Certamente que sim. Uma vez que os textos e os discursos dele no tempo da “ala liberal” eram bem diferentes disto, aliás como tinham obrigatoriamente de o ser. O que leva a concluirmos que a política e políticos deste país apenas são regidos pelo situacionismo. Mas, que as ideias patentes nos discursos deste tempo se enquadram perfeitamente na ideologia do Bloco, isso enquadram. Mas é verdade que o carácter, a inteligência e mundividência de ambos os homens em questão são imensamente diferentes e que chega a ser ofensivo para a memória de Sá Carneiro ser comparado como Anacleto também é verdade.
Sá Carneiro era Sá Carneiro.
Fazer comparações com ele é apenas impossível, primeiro porque o homem morreu e por isso cristalizou. Todos os cristais são bonitos.
Sá Carneiro teria evoluído, do mesmo modo que o fez Soares ao meter o socialismo na gaveta, ou Freitas do Amaral ao deixar caír a ala direita do CDS.
Tentar comparar Louçã a Sá Carneiro é apenas possível se nos abstivermos do tempo e do modo.
Fico desde já muito lisonjeado pela referência.
Mas coloco uma simples questão: Quem é que falou no Francisco Louçã???
E mantenho a minha dívida anterior. Afinal qual das seitas prefere: a de 74 a 76. Ou a anterior a 74?
Esqueci-me só de mais um pormenor. Concordo totalmente com o título do post. É tempo de enterrar Sá Carneiro.
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Este tipo de boutade faz-me lembrar (a mim, que já sou velho) uns rapazes que, em 75, também sabiam toda a verdade e não tinham paciência para velhos e fantasmas. Formavam um grupo chamado MRPP e depois ganharam juízo e dedicaram-se a coisas várias, da presidência da Comissão Europeia à direcção da Casa Pia. Haverá alguma piada e, admitamos, utilidade nestes fogachos. Mas, sinceramente, ao fim de algum tempo, cansam. E confundem-se perigosamente com a ignorância arrogante e satisfeita.
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