Shanghai Express

Não pude deixar de (sor)rir quando, em Setembro de 2007, li o seguinte post do “ladrão de bicicletas” Nuno Teles [NT]:

No presente período de sobressalto nos mercados financeiros, a China afirma-se como um garante da estabilidade da economia internacional. Não é só o seu continuado crescimento recorde que garante a sanidade mental dos investidores globais. Graças a uma regulação muito apertada dos mercados financeiros, pelo menos dois mecanismos mantêm a China fora da recente instabilidade e tranquilizam os mercados financeiros internacionais [câmbio fixo e barreiras à entrada de capital estrangeiro] (…) A “grande muralha” da regulação financeira mostrou-se, mais uma vez, eficaz.

NT teve, na altura, alguma dificuldade em compreender as consequências da política monetária chinesa. Espero que hoje em dia esteja um pouco mais esclarecido. Senão, sugiro que comece por analisar o seguinte gráfico comparativo (Shanghai Composite vs Dow Jones):

Neste, podemos verificar que a instabilidade na bolsa chinesa foi consideravelmente superior à ocorrida na bolsa americana.

Uma das maiores causas da valorização do Shanghai Composite nos últimos anos? Inflação. Ao manter o câmbio fixo com o dólar, o banco central chinês não só – como afirmou NT – manteve as “exportações competitivas” como, também, importou a inflação criada pelo FED, canalizada para o mercado bolsista.

Nota: semelhante fenómeno ocorreu nas bolsas americanas durante a segunda metade dos anos 90 do século passado (leitura recomendada: “Does ABCT help explain the dot-com boom and bust?” – pdf).

3 pensamentos sobre “Shanghai Express

  1. Luís Lavoura

    Não compreendo o raciocínio. Então a China “importou” inflação dos EUA e, como consequência, a instabilidade no mercado bolsista chinês foi muito superior à instabilidade no mercado bolsista dos EUA? Não percebo a dedução.

    Eu diria que, se a inflação chinesa foi “importada” dos EUA, então os mercados bolsistas chinês e dos EUA dever-se-iam ter comportado (ceteris paribus) de forma idêntica.

  2. Caro Luís Lavoura,

    A emissão de moeda por parte dos bancos centrais pode reflectir-se de formas bastante diferentes. Se nos EUA foi no mercado imobiliário, na China aconteceu na bolsa. E julgo que percebe o porquê da criação de moeda não ser equivalente a criação de riqueza…

  3. Quando leio coisas de economistas neo-liberais lembro-me sempre das conversas de umas astrólogas com quem eu saía há muitos anos: imensas teorias e explicações complicadíssimas sobre a importância da energia do Sol e das conjunções de Mercúrio e Vénus, e sobre a irrelevância da precessão do ponto vernal… e depois a realidade a desmenti-las com o maior dos descaramentos!

    A “Harper’s” deste mês tem um artigo a explicar que se a inflação nos EUA fosse calculada incluindo os bens alimentares e a energia era mais ou menos 10%.

    Eu tenho a certeza que vocês têm uma data de argumentos ideológicos absolutamente etéreos para explicar isto, mas a verdade é que cada cada vez que as senhoras aqui da secretaria vão ao supermercado a comida está mais cara.

    A experiência demonstra que sempre que se deixam as coisas ao Deus dará se instalam a confusão, os abusos e as injustiças.

    Mas eu tenho a certeza que vocês vão culpar um indicador qualquer obscuro quando a capitalismo selvagem acabar com as classes médias e não houver ninguém para comprar nada, como aconteceu no fim do milagre económico da Argentina neo-liberal.

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