O que se espera do PSD

Se o PSD, com as mudanças de liderança que se avizinham, pretende ser governo, cedo compreenderá que não pode repetir os erros do governo de Durão Barroso. Para um novo governo do PSD ser bem sucedido não chega pedir sacrifícios aos cidadãos. Terá também de os impor ao Estado. Não serão apenas as pessoas que terão de contar o dinheiro, consumir menos, reduzir as despesas, mudar de emprego; não chega que as empresas se adaptem às novas realidades. O peso da mudança terá de recair no Estado. Na redução dos seus gastos. Na contenção do seu poder. Qualquer reforma digna desse nome implica mexer nisto.

Implica mexer no Estado. Nos seus privilégios, nas benesses auferidas por quem nele trabalha e que não encontram correspondência no sector privado. Implica mexer na Segurança Social, dando alternativas às pessoas que de outra forma serão defraudadas, com as consequências sociais que uma fraude dessa dimensão trará; na educação, dando mais liberdades às escolas na escolha dos seus programas de ensino, com a introdução dos cheques-ensino que, apesar de todos os aspectos negativos que encerram, abrem uma brecha na muralha que é o ensino centralizado; da lei laboral, permitindo uma maior flexibilidade do mercado de trabalho, facilitando a criação de emprego e impedindo que a taxa de desemprego continue a atingir níveis vergonhosos para quem prometeu criar tantos postos de trabalho.

Um PSD que diga que a actual lei laboral atrasa a nossa adaptação ao mundo globalizado, à crise que afecta a economia em todo do mundo.

Juntamente com a lei laboral, e porque dificulta e impede a deslocação das pessoas, é indispensável mudar a lei do arrendamento urbano, dinamizando um mercado que ajuda quem não quer (ou não pode) prender-se a uma casa que se ja para habitação permanente.

Será necessário que o Estado se sacrifique e o faça perdendo poder. Na comunicação social, com a privatização da RTP; na banca, com a venda da Caixa Geral de Depósitos. Perdendo o controle da TAP, da ANA, da Associação dos Portos de Lisboa e deixando de mandar na CP. As receitas com a vendas destas empresas serão o menos. O grande benefício será o Estado deixar de desvirtuar os mercados onde estas operam, tornando-os mais eficientes, e um encargo a menos para os contribuintes.

Tudo isto é fácil de enumerar e muito difícil de fazer. Requer muita resistência, muito estômago, uma luta constante, diária, contra os sindicatos que excederam em muito e há muito tempo as suas funções; contra os interesses corporativos de diversas profissões, alimentados em demasia pelos sucessivos governos.

Para isso, o PSD precisa fazer política, necessita de explicar as suas medidas, as suas opções, preparar-se para estas sejam mal interpretadas por quem não consegue ou não está para as discutir. É um desafio e tanto. Mas é nos grandes e bons desafios que os melhores vêm à tona.

11 pensamentos sobre “O que se espera do PSD

  1. É isso mesmo que se espera do estado e do PSD, portanto resta esperar por todos os candidadtos e ver quem se encaixa no perfil ideal para concretizar o que escreveu.

  2. Luís Lavoura

    Sobre a ANA e os portos: o importante não é só, nem principalmente, o Estado “perder o controle” disso. O fundamental é o Estado DESMANTELAR essas empresas, obrigando os diversos aeroportos e os diversos portos a concorrer entre si.

    Privatizar monopólios não vale a pena, porque um monopólio privado é tão mau como um monopólio estatal. O fundamental é desfazer esses monopólios.

  3. António Carlos

    Caro AAA,
    aquilo que espera do PSD tem tantas hipóteses de se concretizar como a já famosa Ala Liberal do CDS/PP.

  4. Caro António Carlos,

    Creio que o PSD é mais flexível que o CDS. É a capacidade de estar aberto ao mercado eleitoral, às novas tendências políticas, às necessidades das pessoas e correspondentes soluções que explica a sua força. O PSD não se caracteriza pela rigidez do CDS.

  5. Carlos Duarte

    Caro AAA,

    Tudo excelente ideias (incluíndo a ressalva, justa, do Luís Lavoura) mas acha mesmo que isso vai acontecer? Então o PSD vai “desmantelar” o Estado e mandar (dos seus) quadros para a rua? E vai despedir os seus “barões” que pululam nas ANA, TAP, CGD, RTP e quejandos?

    Um conselho: fique aí por terras de Sua Magestade que isto aqui não dá…

  6. Caro André,

    Deixo a todos os membros d’O Insurgente a questão que fiz n’Atlântico e na Ala Liberal:

    Não faria sentido organizar um projecto para um novo partido que espelhasse o desejo de cada vez mais pessoas? Vejo bons intervenientes na Causa Liberal, na Atlântico ou no Insurgente só para citar alguns, para integrá-lo. E se essas pessoas não estão interessadas num projecto novo, então que tenham vergonha falar, pois as causas em que se acredita só têm valor se forem defendidas. E manifestamente o país está cansado da apatia do centro e a única opção que se lhes depara é uma extrema esquerda cosmetizada.
    Acreditando que o liberalismo é válido, e que uma ideia bem defendida se espalha, aqui deixo o desafio.

    Bem-haja!

  7. caro AAA
    que bom que era o PSD propor a redução do estado à sua significância (ou com termos mais de esquerda, redução ao minímo estado garantido) mas não me parece capaz disso nesta geração.
    quanto à adpatação da nossa economia, essa não passa pela criação de condições de resposta ao mercado global, mas sim ao que o mercado global não tem. E aí as condições e leis de funcionamento do mercado e trabalho, não justificam nada. Dói, mas passa. (que remédio)

  8. lucklucky

    Para liberalizar é preciso começar
    por defender coisas que dêem directamente poder ás pessoas: como poder escolher a Escola dos filhos e a Saúde. Depois acabar com os monopólios e as intervenções do estado na economia permitindo uma descida drástica nos impostos.

  9. loucura

    Apoiado. Está na hora de arranjar governantes que pensem nos cidadãos e não no futurozinho dos políticos amigos parasitas do Estado.
    E não sei porque , até acho que o tio João , que tem poucos amiguinhos cá pelo Contenente , era homem para isso. E como disse o Sr. Medina Carreira , referindo-se ao PS no governo , “esses homens são loucos”…acho que é preferível um louco assumido.

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