Irrelevante

Cordeiro sacrificial

Quando foi questionado pelo advogado de Carlos Cruz, Sá Fernandes, Pedroso recordou a primeira vez que se falou da sua ligação ao processo. Foi dois meses antes de ser detido (final de Maio), após a mulher de Ferro Rodrigues ter ouvido um colega de trabalho, no Ministério da Economia, dizer que queriam «tramá-los». Na altura, não ligou e até se riu, contou em tribunal.

Depois é o seu colega de partido, Simões de Almeida, que o avisa dos comentários feitos por um magistrado, Trigo Mesquita, sobre o processo: «O Pedroso não escapa e o Ferrinho também não», recorda. Só então achou que podia ser sério e enviou uma carta pedindo acesso aos autos na tentativa de «saber o que se estava a passar».

O ex-deputado socialista confirmou ainda a existência de uma reunião entre Ferro Rodrigues e Saldanha Sanches, no Largo do Rato, a pedido deste último. Aí, o então secretário-geral do PS foi informado de que o seu nome constava no processo, tal como o nome de outros socialistas.

No entanto, Pedroso garantiu desconhecer como as referidas pessoas tiveram acesso a dados da investigação quando esta ainda estava em segredo de justiça.

Portugal Diário.

Paulo Pedroso admitiu hoje durante a sessão de julgamento do processo Casa Pia terem existido diligências de António Costa junto do antigo procurador-geral da República Souto Moura e do ex-bastonário da Ordem dos Advogados José Miguel Júdice.

Ouvido durante o dia de hoje na qualidade de testemunha no Tribunal de Monsanto, Pedroso frisou não ter pedido a ninguém que fizesse “pressão” em seu benefício, quando em 2003, na altura vice-presidente da bancada socialista, foi indiciado no processo, do qual acabou por ser ilibado mais tarde.

Questionado por José Maria Martins, advogado de Carlos Silvino, sobre se teria pedido a António Costa para falar com José Miguel Júdice no sentido de “dourar” a sua imagem pública, Paulo Pedroso disse: “o presidente do grupo parlamentar do PS [António Costa] fez diligências junto de várias pessoas e entidades e há uma declaração de cada uma dessas pessoas sobre os conteúdos dessas conversas”.

Público Última Hora.

Num país que se desse ao respeito e em que vigorasse algo parecido com um Estado de Direito e com uma efectiva separação de poderes, as sucessivas desventuras acontecidas em torno do nosso Ministério Público (que, lembre-se, vêm já do tempo de Cunha Rodrigues e da escuta do seu gabinete – a informação sobre a televisão como método de contra-espionagem ainda não devia circular) teriam já lançado o maior alerta público e já teriam colocado as maiores instâncias do estado a questionar o funcionamento de todo o sistema político. Naturalmente, teríamos também a própria sociedade civil a clamar pelo restabelecimento da ordem e de um mínimo nível de respeito pelas instituições.

Mas por cá não. Por cá, um político com altas responsabilidade políticas passadas confessa num testemunho juramentado ter conhecimento de intervenções do líder de bancada do maior partido (na altura) da oposição (o seu) junto do Procurador Geral e do Bastonário da Ordem dos Advogados (orgão com poderes e enquadramento legal público) e está tudo bem. O último até acaba mandatário de campanha do primeiro e prometido futuro responsável por um grande projecto de requalificação público tutelado por este. Tudo meras coincidências.

Um distinto jurista e conhecido defensor da quebra do sigilo bancário, que por acaso é casado com uma (cada vez mais) distinta procuradora, é anunciado como tendo convocado uma reunião na sede do Partido Socialista em que se divulgaram factos debaixo de segredo de justiça, nomeadamente o facto de o nome de determinadas pessoas aparecerem em determinados processos. Informação essa que, naturalmente, terá aparecido incidentalmente.

Um PGR anuncia em entrevista (posteriormente corroborada no parlamento) a sua impotência e incapacidade para zelar pela própria segurança e confidencialidade do seu gabinete, quando é ele próprio o principal responsável pela condução da política criminal e pela investigação desse género de crimes. Além disso, anuncia que não tem mão na hierarquia da própria instituição que preside, povoada de “duques, marquesas e condes”, quando ele próprio se tem distinguido, desde a sua posse, por uma atitude (diga-se de passagem inteligente mas pouco dignificante) de nomeação de “super-procuradores”, eventualmente numa estratégia de afastar a sua face da praça pública e colocar a batata-quente em mãos mais afoitas (e mais fáceis – ou indolores – de entregar ao machado da opinião pública se – quando – as coisas derem para o torto).

Convocam-se audições parlamentares, que redundam tão somente no enriquecimento do anedotário nacional. Está tudo bem, e tudo continua.

Aparentemente, não foi dito o que foi dito, nas sedes em que as palavras foram ditas, por quem e com as responsabilidade de quem disse.

Na minha opinião, atingiu-se um ponto em que tacitamente se instalou nas cabeças das pessoas uma noção da irrelevância e do extinguir da autonomia das instituições. Olha-se para o PGR com bonomia, mas com a noção de que este é impotente e de que é tão somente uma etapa e uma ferramenta da condução de uma agenda e da protecção dos interesses instalados.

É minha firme convicção que poderia o PGR vir amanhã avançar com dados da maior gravidade (pelo menos mais graves dos que os graves que já vieram a público) que a reacção não seria muito diferente. Instalou-se a letargia pelo lado de quem deveria por uma ou outra razão escrutinar e o despudor maior dos utilizadores da ferramenta.

A conclusão de que as afirmações do PGR na sua entrevista e na sua ida ao parlamento foram feitas provavelmente com a noção do próprio da sua própria irrelevância, e do não ir a lado nenhum do que se lhe seguiria, em prol de um putativo ficar bem na fotografia conjuntural mas desprovido de quaisquer consequências (principalmente para si).

Entretanto, o cargo (apesar do reconhecimento do próprio da sua impotência) permanece ocupado, quer por vontade (ou falta de vontade ou interesse de carreira) do próprio, quer de quem o nomeou, que permanece calado e ausente enquanto o barco se afunda.

Repleto de coincidências. Mas tudo está bem.

Um pensamento sobre “Irrelevante

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