Crossing the Sands, David Cox, 1848.
O valor da verdade
Na passada semana o governo do Eng. Sócrates completou dois anos de existência e, de todos, o ponto mais importante a salientar é a sua estranha popularidade. Percebê-la é essencial para compreender o queriam os eleitores em 2005 e, no seguimento disso mesmo, saber o que pretende este governo.
A maioria dos portugueses é, directa ou indirectamente, remunerada pelo Estado e Sócrates prometeu proteger essa situação. A partir daqui todos os pequenos sacrifícios que o PS tem pedido aos ‘seus’ eleitores são aceites. A tão apregoada solidariedade socialista dá nisto: No calculismo de quem tem privilégios e faz tudo para não os perder. Na verdade, os privilegiados que vivem à sombra do Estado barricaram-se atrás do PS e contam com ele. O falhanço do governo socialista será o fim desta classe favorecida e, naturalmente, a extinção do PS. Sócrates percebeu isto e foi nisto que apostou. Mas este jogo do primeiro-ministro tem um preço: A inevitabilidade.
Quem olhe para os resultados económicos dos últimos meses não se pode dar por satisfeito. Há crescimento económico, é certo. Mas foi há poucas semanas que a revista Economist colocou Portugal entre os cinco países com menor taxa de crescimento em todo o mundo. Na situação em que o país (e o Estado) se encontra, 1 ou 1,1% é muito pouco quando a média europeia é de mais de 2% e os outros países dos demais continentes andam à volta dos 6 e 7%. A piorar o cenário, o nosso curto crescimento económico deve-se tão só aos bons resultados da economia internacional e em nada às políticas governamentais. Haja outra recessão mundial e o esforço hercúleo de Teixeira dos Santos vai por água abaixo. Na verdade, o que tem de ser tem muita força.
E o que tem é de surgir uma oposição diferente. Tanto o PSD como o CDS andam perdidos por o Partido Socialista ter ocupado o seu espaço político. Quando criticam o governo fazem-no, a maioria das vezes, defendendo medidas ainda mais socialistas ou, quando não, políticas irresponsáveis. A manterem este rumo, o que lhes resta de credibilidade perde-se para sempre e a derrota eleitoral é certa. Esta é a fraqueza dos partidos de direita. Mas há um ponto forte: A realidade.
A realidade demonstra-nos que a forma de fazer política tem de mudar e os partidos de direita de ser mais liberais. Defender uma liberalização do ensino, da segurança social, saúde, alteração nas políticas de apoio à cultura, consequente redução das despesas, a liberalização da lei laboral, a defesa do sistema da flat tax no sistema fiscal português, o centrar as funções essenciais do Estado na segurança interna, na defesa, representação externa e na Justiça. Não é preciso ser radical. Apenas verdadeiro.
Feita esta mudança, é bom que PSD e CDS saibam que vão perder em 2009. Mas que também não ganhariam doutra forma. A diferença entre manter o rumo actual e mudar, está em dizer a verdade. E dizê-la hoje, para amanhã ter o crédito de quem há muito a conhece e se preparou para ela. A verdade, é algo muito importante na política.
Para isso é preciso outras pessoas.
Aqui neste cantinho à beira mar plantado e de costas voltadas para o mundo, somos tão ignorantes que nem conseguimos imitar o que outros antes de nós fizeram.
Para não falar da Irlanda , recordo-me neste momento da Dinamarca com cinco milhões de habitantes, dos quais três milhões dependentes da manjedoura do Estado, que em 1980 começou a dar a volta, e hoje até os sindicalistas celebram o emprego precário universal que a todos assegura o pleno emprego.
Outros tempos virão, só que, como de costume entre nós com o atraso habitual e histórico em relação ao resto do mundo, maior aliás agora depois de andarmos trinta anos a brincar às sociais democracias/socialismos e perdermos assim o hábito de honrar o trabalho.
“Feita esta mudança, é bom que PSD e CDS saibam que vão perder em 2009. Mas que também não ganhariam doutra forma. A diferença entre manter o rumo actual e mudar, está em dizer a verdade. E dizê-la hoje, para amanhã ter o crédito de quem há muito a conhece e se preparou para ela.”
Subscrevo.
Penso que a popularidade do governo deve-se ao autoritarismo de Sócrates.
«Para isso é preciso outras pessoas.»
lucklucky,
Está a falar de políticos ou dos portugueses em geral?
André,
Muito bem, está perfeita a sua análise política em questão!
Concordo plenamente com o seu raciocínio – sobre esta temática – exposto no texto acima, elaborado por si.
“A verdade, é algo muito importante na política.”
O valor da verdade… é sempre um valor, seja lá em que verdade for!
Nem poderia ser de outra forma, porque só com a verdade surge a credibilidade, assim como, o sucesso que lhe é inerente, e que o PSD e o CDS perderam à muito… e, só mudando as estratégias das suas políticas estagnadas e as lideranças instaladas e acomodadas, é que conseguirão o lugar que lhes pertence e é devido, cativando o eleitorado disperso e céptico, rumo a um futuro vitorioso… até lá, o PS vai colhendo os frutos, enquanto puder, e os deixarem – é claro! Até porque muitos deslizes já o PS cometeu…
Embora considere que, em termos teóricos, tenha razão, não posso deixar de salientar um facto que acho ainda mais verdadeiro (e triste): o de uma pessoa poder mudar o rumo da história. Ou seja, na minha opinião, se houvesse um candidato forte do PSD, de preferência com predicados, o rumo das eleições poderia ser invertido. Serve isto para dizer que, independentemente das políticas, mais ou menos de direita, mais ou menos socialistas, o povo tem em conta a pessoa, o candidato, e isso, para o bem e para o mal, conta mais que “a verdade”, conta mais que tudo.
“Está a falar de políticos ou dos portugueses em geral?”
Refería-me a quem está no PSD/CDS nacional e quanto mais descemos para o poder local pior uma vez que são todos Joãos Jardims continentais…