É com alguma tristeza que constato que o PSD, no Porto, insiste em apresentar ao seu eleitorado um candidato que alinha naquilo que têm sido as teorias da mistificação de uma certa clique da cidade que não aceita que o seu tempo passou. Em vez de romper com o passado, o candidato aceita ser correia de transmissão das dores de cotovelo alheias, exibindo um discurso capturado e pouco realista. Dou um exemplo. Numa recente entrevista, Álvaro Almeida realça que, e cito, “(…) (t)odos os indicadores apontam para a regressão económica da cidade. E os positivos são só ligados ao turismo. Estamos a desenvolver um Porto que vive à custa do turismo. É um elemento-chave, mas não pode ser a única base de crescimento porque o Porto deve ser diversificado economicamente (…)”. Pelo caminho, elogia a obra de Rui Rio, como que se posicionando como seu herdeiro natural.
Ora então, a suprema ironia é que, no dia em que Álvaro Almeida sentencia a crise na cidade, repetindo ad nauseam o cliché que se vive só do Turismo, o banco Natixis dá nota pública que irá instalar, num edifício que esteve devoluto durante todo o mandato de Rio, o Central Shopping, um centro de competências na área informática que irá criar 600 postos de trabalho qualificados na cidade. Do outro lado da rua, a semana passada foi inaugurado um pólo de competências da Critical Software, no antigo edifício dos Correios. E recordo, também a título de exemplo, a decisão da Euronext de instalar no Porto, igualmente, um centro de competências, num edifício que, em tempos, chegou a ser o de instalações da Bolsa de Lisboa e Porto (entretanto desmantelada, durante o mandato de Rui Rio, sem que a cidade e o seus empresários, alguns deles diretamente implicados na decisão de integração na Euronext, tenham conseguido travar a saída e concentração em Lisboa). Estas três iniciativas que refiro – poderia indicar outras – têm o condão de mostrar quão afastado está o discurso de Álvaro Almeida da realidade, com a curiosidade adicional de marcarem uma viragem de página em edifícios que durante os mandatos de Rui Rio estiveram votados ao abandono e à decadência, que passaram a ter utilidade e a dinamizar emprego direto e indireto na cidade, acolhendo negócios com forte pendor tecnológico, orientados para o exterior. Pergunto-me como pode o PSD ter sucesso se, até eu, que não me lembro de votar num partido que não seja o laranja, sinto vergonha alheia ao ler o tipo de discurso protagonizado pelo candidato escolhido.
Subscrevoo e receio que em Lisboa irão repetir a receita.
(…)”vetados ao abandono e à decadência” (…).
Será que quereria escrever “votados ao abandono e à decadência”?
Se assim for, queira não publica este comentário.
Caro Tiro ao Alvo,
A chamada de antenção é certeira. Havia um erro de escrita. Já corrigi no texto. Obrigado.
RAF
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